segunda-feira, 30 de julho de 2007

Caixa de Memórias

Ando a mexer nas memórias
a adormecer o sentimento
quero ver-te aqui por perto
nem que seja por um momento
Nada na vida é ilimitado
nada no Mundo sabe tão bem
do que abrir a caixa de memórias
e ver o que nela tem
Flores secas
um poema rasgado
uma infinidade de recordações
de coração despedaçado
E a vida continua
mesmo depois de fechá-la
ficará sempre na memória
mas muito melhor será guardá-la

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Ao sabor do vento

Rumo ao sul
Vamos sempre rumo ao sul
ao sabor do vento
para onde ele nos levar
Vamos em desatino
sem ter um destino
vamos de viagem
vamos apenas de passagem
ao sabor do vento
vamos só nós os dois
sem pensarmos em depois
sem pensarmos na próxima viragem
E seguimos assim
nesta viagem sem fim
rumo a ti
rumo a mim

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Desejo

Há sensações inexplicáveis
Há vontades imesuráveis
É tanto e apenas nada
numa história inacabada
Não sei se é loucura ou não
Ter-te mesmo aqui à mão
e não te desejar tanto assim
Uma vontade não se explica
Essa, apenas complica
Aquilo que queremos sentir
Relatamos o impossível
Mantemo-nos no invisível
E esperamos....pelo sonho

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Noutro lugar

Existem coisas que não sei explicar
existem coisas sobre as quais não quero falar
existem vidas diferentes da minha
existem outros que me deixam sozinha

Neste momento não consigo pensar
nem quero mais mudar
só quero me imaginar
talvez....noutro lugar...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Comboio

Aqui (movente ou parada?)
Vou contra a vida que foge
Nos campos que à desfilada
Vão ao invés do que corre.
Que deus me ilude ou me mente?
Porquê na hora fugaz
Eu julgo que vou para a frente
Se tudo avança para trás?
Acaso regressa o tempo
Ao que era antes do mal
Nas árvores que recuam à floresta inicial?

Natália Correia

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Do outro lado do espelho

Do outro lado do espelho
Se pudesse guardar o momento
Procuraria o inimaginável
Guardaria o teu movimento

Como a escova de cabelo
Que uso para pentear-me todos os dias
Assim serias tu no meu espelho
E que belo tu serias

Não existiria bruxa má
Nem mesmo bicho papão
Apenas tudo e tão somente
Tu no meu coração

Ali do outro lado do espelho
Não te consigo alcançar
Dentro da minha casa
Sem ordem para tirar

E agora
Nada há a dizer
Do outro lado do espelho
Tudo pode acontecer

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Crise Lamentável

Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe ...
E não há forma: cada vez mais perdida
Mas a destreza de saber pegar-lhe.
Viver em casa como toda a gente,
Não Ter juízo nos meus livros – mas
Chegar ao fim do mês
Com as Despesas pagas religiosamente.
Não Ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas –
À minha torre ebúrnea abrir janelas
Numa palavra, e não fazer mais cenas.
Ter força um dia para quebrar as roscas
Desta engrenagem que emperrando vai.
– Não mandar telegramas ao meu pai–
Não andar por Paris, como ando , às moscas.
Levantar-me e sair – não precisar
De hora e meia antes de vir prá rua.
Pôr termo a isto de viver na lua,
– perder a frousse das correntes de ar.
Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa de amigos que frequento
–Não me embrenhar por histórias duvidosas
Que em fantasia apenas argumento.
Que tudo em mim é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete:
E sempre o oiro em chumbo se derrete
Por meu azar ou minha zoina suada ...

(Mário de Sá Carneiro)

terça-feira, 3 de julho de 2007

Outras sombras....

Acho cada vez mais interessante saber da vida dos outros do que da minha própria vida….
Sem dúvida que todos nós temos um pouco de “vouyeurs”, um pouco de comadres alcoviteiras daquelas santas terrinhas perdidas em cascos de rolha. A verdade é que todos nós gostamos de uma boa novela, num projecto romanceado, bem ao estilo queirosiano, gostamos da parte e queremos saber o todo, não nos basta sermos apenas nós mas também o outro e portanto, como diria Mário de Sá Carneiro, seria então qualquer coisa de intermédio num aqui e num daqui a pouco.
Mas afinal para que nos interessa a vida dos outros? Para que nos interessa a opinião dos outros?
Pleonasmos à parte, seremos sempre animais sociais com necessidades pujantes de absorver toda a informação supérflua que pudermos.
De interessados a interessantes temos de tudo um pouco, ou talvez não….
Eu sou da chamada “geração rasca” e em alguma coisa têm razão. Mais ordinários impossível… (se estivéssemos on-line no MSN juntaríamos agora um LOL, que todos utilizamos para responder não sei bem o quê…).
Não, não somos reles, somos ordinários, somos vulgares, somos, na maior parte dos casos desinteressantes e desinteressados, vemos reality shows e continuamos à espera do próximo capítulo da novela…
Somos como somos, e estaremos bem assim enquanto houverem outras vidas que nos interessem tanto como se fosse a nossa, a da melhor amiga, a do rapaz giro do 5º C, a do barman daquele bar conhecido, a da bailarina de discoteca, a da senhora que está ao nosso lado no banco do metro. Porque é que continuamos empenhados na obtenção desta informação? O que é que ganhamos com isso? Se calhar ganhamos a tal vida eterna que a Igreja tanto professa...(altura de um novo LOL).
Ora aí estão outros que adoram a vida alheia. Hão-de me dizer quem terá sido o inteligente que decidiu introduzir a confissão como forma de expiação de pecados? Primeiro, deve ter sido um homem, o que contraria logo qualquer ideia de que são as mulheres as mais bisbilhoteiras e, em segundo lugar, para quem e para quê, é que a Igreja, na pessoa de um padre, quer saber da nossa vida pessoal. Desde de sempre me intrigou aquele pequeno espaço destinado à revelação dos mais íntimos pecados, um contingente limitado a duas pessoas que pensam em fins distintos. Um quer a glória eterna e o outro quer tomar o gosto ao pecadilho.
Eu não sou ateia, nem agnóstica, nem coisa que o valha. Concordo em absoluto com a teoria do Exmo. Senhor Einstein que consiste em alguma força superior que controla o Mundo (na verdade o Einstein já sabia quem era o Matrix!), até porque este não surgiu por acaso. Ah, e não venham cá com a história eclesiástica de que tudo surgiu da costela do Adão e o Adão surgiu donde? Foi a cegonha que o trouxe de Paris? (agora já começamos a ficar fartos do respectivo LOL)

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Inconsciente

"Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações que a intensidade da consciência delas. Sofri sempre mais com a consciência de estar sofrendo que com o sofrimento de que tinha consciência.
A vida das minhas emoções mudou-se, de origem, para as salas do pensamento, e ali vivi sempre mais amplamente o conhecimento emotivo da vida.
E como o pensamento, quando alberga a emoção, se torna mais exigente que ela, o regime de consciência, em que passei a vive o que sentia, tornava-se mais quotidiana, mais epidérmica, tornava-se mais titilante a maneira como sentia."

in Livro do Desasssossego, Bernardo Soares (Heterónimo de Fernando Pessoa)